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Foto do escritorMarcio strzalkowski

O Ultimo Samurai


Existe toda uma enorme lista de filmes completamente esquecidos e subestimados sobre a cultura dos Samurais e este filme foi com certeza um dos últimos a entrar na lista.O que é uma certa injustiça para com este filme. E existem motivos. Embora o filme seja completamente baseado em fatos históricos e até personagens históricos, muitos de seus personagens e até ações são ficcionais...



Mas o filme merece um review machista que conte um pouco mais sobre os personagens que inspiraram o filme, a filosofia do Bushido, a restauração Meiji e outros tantos temas que constituem este filme...


O Ultimo Samurai (The Last Samurai 2003)

Dirigido por Edward Zwick


Escrito por Edward Zwick, John Logan e Marshall Herskovits



O filme começa com a meditação do velho Senhor Samurai Moritsugu Katsumoto (Interpretado por Ken Watanabe). Moritsugu Katsumoto é um personagem fictício claramente inspirado em Saigo Takamori, que realmente ficou conhecido como O Ultimo Samurai por ter sido o ultimo a lutar utilizando armas e armaduras tradicionais contra um exercito utilizando táticas militares contemporâneas.Ele tem uma visão sobre um tigre cercado por guerreiros samurais. O qual luta ferozmente pela vida e não se entrega. A visão não é algo sobrenatural ou um mero sonho, mas uma ideia que vem se formando em sua mente há meses sobre como será cercado e terá que lutar até o fim no futuro próximo.



O herói caído...


   O filme então corta para um personagem de uma terra muito distante do outro lado do mundo. O personagem Nathan Algren, interpretado por Tom Cruise e baseado na pessoa real de Jules Brunet, um francês que fez parte da Guerra da Boshin. Sendo conhecido e prestigiado por ser o ocidental que lutou ao lado dos samurais. Nathan é mais do que um clichê de herói americano, ele é um completo oposto a própria ideia de herói que existe na América. Nathan é traumatizado com o seu passado cheio de chacinas de indígenas. Nathan começa o filme no fundo do poço sendo apresentado como uma atração quase circense fazendo propaganda bêbado do modelo de um rifle de 1873. Em seu discurso ensaiado existem lampejos claros da carnificina que presenciou.


   Nathan se entregou ao alcoolismo e seus pesadelos são sobre os massacres que praticou. Se lembrando claramente de chacinar mulheres e crianças indefesas sob as ordens do Coronel Bagley (Tony Goldwyn).



   Nathan Algren é o exato oposto dos guerreiros samurais. Ele odeia ser chamado de herói por causa das chacinas covardes que protagonizou e uma das cenas mais simples mostra o fato de que ele nem mesmo consegue se olhar no espelho sem sentir profunda vergonha de si mesmo.


   Uma das cenas mais tensas do filme é quando lhe perguntam sobre como é feita a técnica do escalpo e Nathan a descreve com detalhes rápidos e cheios de dor e ódio. Quem for assistir o filme novamente pode notar como existe muita raiva em Nathan toda hora que chamam os índios de selvagens.


   E mesmo assim ele recebe a proposta de treinar soldados do outro lado do mundo e matar guerreiros japoneses que foram justamente comparados com lideres tribais. E quando questionado de suas motivações pelo mesmo Coronel Bagley que o levou a massacrar mulheres e crianças indefesas, Nathan só tem algo a dizer:



"Você quer que eu mate índios, eu mato índios. Quer que eu mate japoneses? Eu mato japoneses. Por 500 dólares eu mataria qualquer um! mas quero que saiba, gostaria de matar você de graça!."



E com este desdém pela noção sem honra de herói, Nathan viaja até o Japão.


O choque das culturas


 Ao chegar no Japão e começar a treinar as tropas, Nathan se depara com uma cultura de séculos de luta com um código para os guerreiros que equivale aos códigos da Cavalaria. O Bushido! O papel de Tom Cruise não é só o de um herói galã americano desnecessário. Ele mostra toda uma situação real de choque cultural e admiração que ocorre ao se deparar com a cultura de Guerra japonesa.



   Nathan aprende que os samurais são a elite guerreira formada por guerreiros que ainda lutam usando armaduras. Que são altamente treinados com lanças, arcos e principalmente com espadas. Se deparar com séculos e séculos de uma cultura guerreira despertou o fascínio de Nathan e respeito pela figura do rebelde Moritsugu Katsumoto. Mas antes mesmo de ter as suas tropas prontas para o combate, ele recebe ordens para enfrentar o samurai em campo de batalha.



   Uma das coisas mais interessantes é como Nathan demonstra que suas tropas não estão preparadas. Ele se posiciona na frente dos alvos, saca sua pistola, aponta para um de seus soldados e ordena que ele o mate! E segue atirando aos pés do soldado até que ele atire em seu capitão. Nathan inclusive dispara um tiro que remove o capacete do soldado(o famoso tiro de tirar o chapéu). E então o soldado atira e...   ...erra.



Uma tropa mal preparada lutando contra guerreiros samurai.



A comparação com Saigo Takamori


   Como mencionado antes, o filme é uma obra de ficção baseada em fatos reais. Para entender um pouco, temos que entender que a pessoa real de Saigo Takamori, por ser um samurai, também era um militar de altíssima patente e que não via nenhum problema em usar roupas militares ocidentais e muito menos em usar rifles ou canhões.


   Para entender, a pólvora foi inventada na China e os samurais a utilizaram muito bem por 300 anos antes dos acontecimentos do filme.



   Saigo Takamori foi também um político controverso e ajudou a derrubar o Shogunato para começar a Revolução Meiji. O que significa praticamente que ajudou a eliminar o feudalismo para dar todo o poder de administração política ao Imperador. Sendo depois oficializado como Conselheiro. Era tão respeitado que até mesmo chegou a assumir o poder provisoriamente do Japão em 1871. Durante este período tentou começar uma guerra com a Coreia para que o Japão a anexasse ao seu território. E para isso teve um plano que envolvia a sua própria morte na Coreia!


   Mas foi impedido pois, o governo e o próprio Imperador começaram a ceder a interferência internacional de paises da Europa e os Estados Unidos.



   Saigo Takamori renunciou ao governo e iniciou uma academia militar em Kagoshima com outros samurais que também renunciaram. Suas obras e pensamentos políticos foram de preservar a importância da cultura guerreira japonesa e de que o Imperador não deveria ceder aos interesses estrangeiros. E como esse grupo ficou muito poderoso na região, o Imperador foi pressionado por influencia internacional a eliminar a ameaça de uma rebelião.


   Os samurais então foram proibidos de portar armas, começaram a ser banidos do governo, perdendo seus cargos ou sendo presos. O que resultou na Rebelião de Satsuma quando o governo enviou navios para enfrentar os samurais. Saigo Takamori e seus samurais lutaram em principio usando roupas militares, canhões e rifles. Mas ao final da batalha com 400 guerreiros sobrando, adotaram as antigas armaduras, arcos, flechas e espadas.


   Saigo Takamori foi o último samurai a utilizar a combinação tradicional de armadura, arco, flechas e espada para lutar. Em 22 de Fevereiro de 1989 Saigo Takamori foi finalmente perdoado pelo governo Japones.


O encontro com Katsumoto


   Nathan então é forçado a enfrentar guerreiros samurais com tropas completamente despreparadas.


Os soldados são posicionados para uma saraivada de tiros contra guerreiros que vem a cavalo. E nesta hora podemos ver claramente duas amostras de coragem e covardia. Nathan presencia o seu superior Coronel Bagley fugir da batalha. Enquanto isso o seu amigo Zebulon Gant (vivido por Billy Connolly) fica ao lado das tropas. Nathan lhe dá uma ordem dele recuar e recebe uma boa resposta sobre fugir do combate:


- Senhor, não quero desrespeita-lo, mas vai pro inferno!



E então um dos soldados dispara a sua arma antes, fazendo o pelotão todo atirar ao mesmo tempo. E enquanto eles recarregam as suas armas, os guerreiros samurais atacam a cavalo.


Embora o filme seja uma obra de ficção baseado em acontecimentos reais, um único detalhe chamou a atenção dos críticos em história. O debate sobre se uma tropa destreinada realmente conseguiria matar tantos guerreiros samurais em combate corpo-a-corpo quanto no filme. Mas mesmo assim é uma ótima cena de batalha.



   Com uma tropa despreparada, Nathan e seus homens vão sendo massacrados pelos guerreiros samurai até que Nathan é cercado por eles e tem que lutar por sua vida. Katsumoto então presencia Nathan lutar ferozmente pela vida do mesmo jeito como viu em sua visão no começo do filme. Onde Katsumoto entende o seu próprio final. Nathan é então jogado ao chão, subjugado e estirado apenas esperando pelo golpe final de um poderoso samurai de armadura vermelha.


   E em seu momento final, Nathan levanta uma lança e mata o samurai.



   Katsumoto fica impressionado e decide que seus homens não devem mata-lo, mas sim leva-lo com eles.



Capturado


   Nathan Algren é então levado pelos samurais até o seu retiro onde a neve se encarregará de fechar todas as estradas e acessos. É jogado em um quarto onde ele mesmo se joga em profunda depressão e no alcoolismo. O que potencializam ainda mais os seus pesadelos com os massacres do passado. Suas noites são povoadas pelas pessoas mortas sem nome e seus gritos são tão fortes que Nathan acorda gritando as vezes.


   Seus ferimentos podem te-lo deixado a beira da morte, mas são os pesadelos com as chacinas de pessoas inocentes que mais o torturam em uma sequencia que mostra os efeitos de uma desintoxicação.


E então, quando Nathan finalmente acorda, ele se depara com uma situação inusitada de ser um prisioneiro livre. Podendo andar livremente pela pequena cidade que Katsumoto mantém e cuida. Tendo apenas um guarda para cuida-lo sem dizer uma única palavra. Nathan presencia uma cidade calma com pessoas dedicadas e guerreiros que cuidam da paz enquanto treinam. Nathan é bem tratado com educação e dignidade.


   Algumas cenas chave vão mostrando tanto sobre a cultura e os modos dos samurais como sobre a determinação de Nathan. Uma das cenas é uma belíssima luta na chuva com espadas de madeira quando Nathan é desafiado pelo Samurai Ujio (Hiroyuki Sanada). Lógico que Nathan é facilmente derrotado na luta com as espadas, mas mesmo assim o que chama a atenção é o fato de ele se levantar após cada queda. Fato que os guerreiros samurais entendem muito bem e admiram. O fato de Nathan se levantar inúmeras vezes sem se dar por vencido não só conquista o respeito dos guerreiros samurai como também abriu todo um caminho para que Nathan possa treinar junto com os guerreiros.



Dialogo entre inimigos


   Os diálogos entre Nathan e Katsumoto mostram um enorme senso de respeito mutuo assim como acentua as diferenças e semelhanças. Muitos guerreiros samurais administravam e cuidavam de cidades, tendo funções como julgar, aplicar a lei e principalmente defender os habitantes. E este é o caso de Katsumoto. Ele administra completamente a pequena vila junto aos guerreiros assim como o samurai histórico Saigo Takamori cuidava de sua academia.



   Uma coisa que chama a atenção de Nathan é o fato de que Katsumoto demonstra interesse e respeito pelos índios americanos. O que conquista também a simpatia de Nathan. O único outro capaz de se referir aos índios com respeito no filme foi o Imperador Meiji!



   Isso vai criando uma amizade entre os dois inimigos. Principalmente pelo fato de que Katsumoto estar lutando exatamente por aquilo que acredita. É uma luta sobre honra e tradição. Os samurais lutam com uma paixão pelas tradições antigas e para conscientizar o Imperador Meiji de que ele não deve se curvar aos interesses alheios que não tem nada a ver com o povo Japonês.



  Tanto que Katsumoto afirma:


  - Se o Imperador me quisesse morto, tudo o que bastaria seria pedir.



  Ao final do inverno e com as estradas abertas, Katsumoto viaja para a Capital Edo (que depois foi rebatizada de Tóquio). E Nathan o acompanha livre.


A traição e a perseguição aos samurais


Antes mesmo de voltar a liberdade, Nathan presencia um ataque contra a vida de Katsumoto perpetrada por assassinos ninjas. Que invadem a cidade a noite durante um espetáculo de teatro e começam uma terrível batalha onde Nathan acaba lutando para proteger tanto a comunidade quanto a vida de Katsumoto.



De volta a Edo, Nathan volta a presenciar a perseguição aos samurais na forma de humilhação. Katsumoto mal é ouvido em uma audiência com o Imperador. Os samurais são perseguidos no meio da rua com o confisco de suas espadas e até a humilhação de cortar os cabelos dos samurais. A humilhação é tanta que Katsumoto é preso e mantido em uma cela para que cometa suicídio



Assim, os samurais decidem invadir o quartel onde Katsumoto está preso e liberta-lo. E Nathan os ajuda no resgate. Dando inicio a outra cena de ação dramática. Cercados, usando armas antigas como espadas e arcos contra soldados com armas de fogo; A batalha é difícil e o filho de Katsumoto acaba alvejado mortalmente. De modo que ele decide fazer um último ataque suicida para salvar os outros samurais.



Nathan, Katsumoto e todos os samurais conseguem fugir de volta a sua cidade e reunir as forças para a última batalha.


O respeito as mulheres


  Taka (vivida pela belissima e talentosa atriz Koyuki) é a personagem feminina que testemunha a história tanto de Katsumoto quanto de Nathan ao longo do filme. E embora ela tenha uma limitação cultural em falar sobre os próprios sentimentos, o romance entre ela e Nathan se desenvolve lentamente mesmo enquanto ambos sabem que o final de sua história será trágico.


  Uma das cenas mais bonitas do filme mostra Taka ajudando Nathan a vestir a armadura de seu falecido marido. A cena é carregada de um romantismo que remete aos antigos textos românticos da época.


   Onde um abraço sincero pode ser visto antes de um simples beijo.



   O Bushido japonês equivale as regras da Cavalaria Europeia e compõe de muito respeito para com as mulheres séculos antes do respeito as mulheres ser comuns. As mulheres já eram respeitadas e protegidas na cultura dos guerreiros samurais havia séculos.



A batalha final dos Samurais


Os samurais se preparam então para a última batalha de suas vidas usando armas e armaduras tradicionais. Preparados para morrer por aquilo que acreditam, enfrentando um exercito muito maior e com armas de fogo capazes de perfurar facilmente as suas armaduras.


A batalha é inspirada nos acontecimentos reais da Batalha de Shiroyama e narra os acontecimentos finais dos guerreiros.



São cenas inspiradas mostram comparações e estratégias reais que os samurais usavam em suas batalhas. Assim como mostra as estratégias e atitudes do exercito japonês em relação aos samurais.



E embora eu sinta vontade de contar o final do filme, ainda vou deixar o meu review por aqui. O objetivo dos meus reviews sempre foi mostrar o meu ponto de vista sobre os filmes assim como deixar todos os meus 5 leitores com interesse pelos filmes falados aqui...


Por Marcio Strzalkowski Força e Honra!

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